A Natureza da Mente do Budosmp Tibetano e o Qigong

No coração do budismo tibetano, encontramos um ensinamento profundo e transformador: a “natureza da mente”. Este conceito, tão bem elucidado por Sogyal Rinpoche em “O Livro Tibetano da Vida e da Morte”, remete à experiência direta da nossa essência mais pura, uma realidade além dos pensamentos, emoções e identidades temporárias. Essa “natureza” é descrita como luminosa, vazia e clara, tal como o espaço infinito que tudo acolhe sem nunca se alterar.

Enquanto praticante e professor de Qigong, vejo um paralelo importante entre esta visão budista e os objectivos do Qigong. Ambas as tradições, embora distintas nas suas origens e métodos, oferecem caminhos para o autoconhecimento e a harmonia interior. Vamos explorar esta relação mais de perto.

A Natureza da Mente Segundo Sogyal Rinpoche

Sogyal Rinpoche apresenta a natureza da mente como algo que não pode ser compreendido apenas pelo intelecto. Ela deve ser vivenciada diretamente. Segundo ele, por trás da agitação mental — o constante fluxo de pensamentos e emoções — reside uma consciência pura, imutável e tranquila. Falamos da nossa verdadeira essência, muitas vezes obscurecida pelos dramas do dia a dia.

A natureza da mente uma vez reconhecida, não precisa ser fabricada ou mantida — ela é o estado natural da mente, sempre presente.

Qigong e a Consciência Corporal

No Qigong, trabalhamos com o corpo, a respiração e a mente de forma integrada para cultivar o “Qi”, a energia vital. Uma prática fundamental é aprender a estar enraizado no momento presente, reconhecendo o fluxo do Qi dentro de nós e identificar os pensamentos e sentimentos que estão a passar por nós. Aqui surge um elo com o ensinamento da natureza da mente: tanto no Qigong quanto no Dzogchen, o objetivo é transcender o ruído superficial interno e ligar-se a algo mais profundo e essencial.

Ligar-se a si mesmo. Este ligar-se a si mesmo é fundamental para alcançar o estado de harmonia interior. Isto quer dizer que consegue afastar-se dos seus pensamentos de modo a presenciar a real natureza da mente, onde a melhor transcição para a descrever é realmente como um céu limpido e vasto.

Por exemplo, quando praticamos a posição de Zhan Zhuang (de pé como uma árvore), somos convidados a sentir o corpo em quietude e plenitude, mas sem força ou tensão. Este estado de entrega à experiência pode ser comparado ao reconhecimento da natureza da mente: ambos exigem presença e uma abertura para o que é.

Integração nas Minhas Aulas de Qigong

Nas minhas aulas, muitas vezes enfatizo a importância de “desacelerar” para observar o que está a acontecer internamente. Quando guio os alunos a cultivar a calma mental, através de movimentos fluidos ou da meditação em pe, começam entrar, muito gradualmente em contato com uma dimensão mais profunda de si mesmos.

Relatar a experiência de estar presente durante a prática é uma porta de entrada para compreender a natureza da mente. Ao alinhar corpo, respiração e intenção, nós não apenas cultivamos o Qi, mas também treinamos a capacidade de nos libertar de distrações, permitindo que a nossa essência verdadeira brilhe por si mesma.

Pontos de Reflexão

  • Como o movimento do Qi e a perceção corporal podem ajudar a dissolver as barreiras entre o ego e a nossa essência?
  • O que acontece quando tratamos cada momento da prática como uma oportunidade de contemplar a natureza da mente?

A natureza da mente, como ensinada no budismo tibetano, e o Qigong partilham uma mensagem universal: a possibilidade de encontrarmos paz e clareza, mesmo por entre as turbulências da vida. Ao alinhar estas duas tradições, podemos oferecer a nós mesmos um caminho mais rico para o bem-estar e a realização pessoal.