Breve história do Qigong

A história do Qigong chinês pode ser dividida aproximadamente em quatro períodos. Sabemos pouco sobre o primeiro período, que se considera ter começado quando o I Ching  – Livro das Mutações, foi introduzido por volta de 2500 a.C., e estendeu-se até a dinastia Han 206 B.C., quando o budismo e os seus métodos de meditação foram importados da Índia. 

Esta fusão trouxe a prática de Qigong e a meditação para o segundo período, a era religiosa do Qigong. Este período durou até a dinastia Liang 502-557 d.C..

Quando se descobriu que o Qigong podia ser usado para fins marciais. Deu-se o início do terceiro período, o do Qigong Marcial. Diferentes estilos de Qigong marcial foram criados com base nas teorias e princípios do Budismo e do Qigong Taoísta. Este período durou até a queda da dinastia Qing em 1911.

Após o ano 1911 da nossa era, como final da dinastia Ching os treinos de Qigong, aparecem misturados com práticas da Índia, Japão e outros países, este diz-se ser o quarto período do Qigong.

A prática do Qigong foi durante muito tempo realizada em segredo, tanto as técnicas religiosas como as marciais, e eram ensinadas de mestre a discípulos cuidadosamente escolhidos. 

O crescimento exponencial do Qigong deu-se em 1945 após a implementação da República Popular da China, quando Mao Tsé-tung reconheceu que os meios da medicina convencional eram demasiado caros e insuficientes para manter toda a população chinesa saudável. Foi desta maneira que se resgatou o poderoso legado chines, a medicina tradicional chinesa e com ela o Qigong.

Assim criaram-se numerosas técnicas que podemos vê-las florescer pelo mundo fora.

No Ocidente, o conhecimento começa agora a se difundir, com grandes resultados, pois as práticas do Qigong em função de sua eficiência, vão ao encontro de uma necessidade proeminente do Ocidental, que é a de melhorar a sua saúde e principalmente a prevenção de enfermidades de todo tipo. 

Categorias do Qigong

Existem 4 escolas ou categorias que foram criadas por diferentes tipos de pessoas: os escolares, os médicos, os artistas marciais e os monges.

A maior parte da Filosofia Chinesa, foca-se no estudo da natureza humana, sentimentos e no seu espírito como se destaca especialmente nos eruditos chineses.

Para eles, a vida física não era considerada tão importante como a vida espiritual. Por essa razão a maioria das meditações silenciosas se especializaram no cultivo do espírito e foram desenvolvidas pelos monges e eruditos budistas. Entretanto, estes dois grupos procuravam diferentes objetivos.

Os eruditos acreditam que as maiores enfermidades eram causadas por desequilíbrios emocionais e espirituais. Usavam a meditação para regular a mente e o espírito e com isto ter boa saúde.

Os budistas procuravam a independência espiritual e o supremo estágio da Iluminação.

Os monges budistas, especialmente os tibetanos, foram capazes de atingir os mais altos níveis de meditação, coisa que nenhum outro estilo na China conseguiu.

Apesar de que estes dois grupos enfatizavam a meditação espiritual, também utilizaram os exercícios físicos deixados pelo Bodhidharma Da Mo. 

Por outro lado os médicos chineses acreditavam que, apesar da meditação espiritual ser importante, o cultivo físico era ainda mais crítico para a manutenção da saúde e a cura; além de que era mais difícil ensinar aos leigos a meditação silenciosa do que era muito complicada de ser compreendida e praticada.

Assim o Qigong criado pelos médicos enfatizava a saúde e a cura física utilizando muitos exercícios corporais. Confiavam profundamente na acupuntura e em ervas medicinais para ajustar o qi (energia vital) que se tornava irregular em função das doenças. 

Escola dos Eruditos 

A escola dos eruditos era formada pelos seguidores de Confúcio.

Os Confucionistas defendiam a Lealdade; a Piedade filial, a Humanidade, a Suavidade, a Sinceridade, a Justiça, a Harmonia e a Paz. 

A humanidade e os sentimentos humanos são os principais assuntos de seus estudos.

A contribuição ao Qigong destas escolas de eruditos enfatiza o mantimento da saúde e a prevenção das enfermidades.

Estes acreditavam que muitas doenças são causadas por excessos mentais e emocionais.

Quando a mente de uma pessoa não está calma, equilibrada e em paz, os órgãos não funcionarão normalmente, por exemplo; a depressão pode causar úlceras e indigestão. A Raiva causa o mau funcionamento do fígado. A tristeza causa a estagnação nos pulmões. O Medo pode perturbar o funcionamento normal dos rins e da bexiga.

Os eruditos perceberam que para se evitar doenças devemos aprender a equilibrar e a relaxar os pensamentos e as emoções. A isto se dá o nome de regulação da mente. 

Escola dos Médicos 

Na sociedade chinesa antiga a maioria dos Imperadores respeitavam os eruditos e seguiam as suas filosofias.

Já os médicos não eram vistos com bons olhos, porque os seus diagnósticos eram feitos pelo toque no corpo do paciente, o que era considerado algo característico das classes inferiores da sociedade. 

Apesar dos médicos desenvolverem uma profunda ciência médica, eram desprezados pelas classes mais altas da sociedade chinesa, no entanto, continuaram a trabalhar e a estudar e, em silêncio, ensinaram os resultados das suas pesquisas às gerações futuras. 

Os médicos acreditavam que praticar somente a meditação silenciosa sentada para regular o corpo e a mente não era suficiente para curar o corpo; pois acreditavam que para aumentar a circulação da energia (qi) seria sempre necessário movimento físico. 

Aprenderam através das suas práticas que as pessoas que exercitavam o corpo ficavam doentes com menos frequência e que eram mais resistentes. Também perceberam que movimentos específicos do corpo poderiam aumentar a circulação do Qi em órgãos específicos.

Alguns destes movimentos são similares aos movimentos de alguns animais, é claro que para um animal sobreviver na selva deve ter um instinto de como proteger o seu corpo e parte desse instinto, relaciona-se com a manutenção de seu qi. 

Os seres humanos perderam a maioria destes instintos por se terem separado da natureza.

Após longas investigações, os médicos chineses encontraram movimentos que poderiam ajudar a curar doenças particulares e também descobriram que a causa de muitas enfermidades era a falta e o desequilíbrio do qi, que, após muito tempo acabava por afetar os órgãos físicos. 

Quando o qi é muito positivo (yang) ou muito negativo (yin), num canal energético específico de um órgão, o órgão físico começa a sofrer. Se não se corrigir a circulação do Qi, o órgão ficará enfermo e vai acabar por se degenerar.

Assim, a escola dos médicos enfatiza exercícios de meditação em movimento (Qigong).

E tem como principal objetivo, a manutenção da saúde e a cura de doenças. 

Os exercícios de Qigong são uma parte da ciência médica chinesa juntamente com as ervas medicinais, a acupuntura, e a massagem. 

Escola dos Artistas Marciais

O Qigong chinês marcial, começou a ser desenvolvido no Mosteiro Shao Lin durante a dinastia Liang (502 – 557 AD) depois que o Bodhidharma Da Mo ter ensinado os exercícios do Tratado da Renovação dos Músculos e dos Tendões.

Da Mo foi um budista que alcançou a iluminação mas que a renunciou, para se dedicar a ajudar outros a alcançar a iluminação, daí ser apelidado de bodhidharma.

Da Mo viajou da Índia para a Chinesa com o fim de ensinar o budismo e as suas técnicas de meditação. Passou pelo palácio do imperador e acabou por visitar e permanecer no templo shaolin até ao fim da sua vida.

Ao chegar ao templo shaolin, Da Mo apercebeu-se que os monges tinham uma condição física bastante fraca.

Foi por este motivo que Da Mo ensinou técnicas de Qigong aos monges shaolin. Praticadas até aos dias de hoje, conhecidas pelos nomes: “Tratado da renovação dos Músculos e Tendões” (Muscle/Tendon Changing Classic) e “Clássico de como limpar a medula e o cérebro” (Marrow/Brain Washing)

Com a prática regular destes exercícios os monges shaolin tornaram-se mais fortes e recuperaram a saúde física o que lhes deu a possibilidade de desenvolver a arte marcial shaolin (hoje mundialmente conhecida) para se defenderem de saqueadores de templos.

Muitos praticantes de artes marciais usam o Qigong para aumentar o poder das suas técnicas marciais.

Assim deu-se início ao qigong marcial.

Escola dos Religiosos 

O Qigong é considerado uma ciência, no entanto existe um grupo de pessoas que usam as técnicas de qigong para alcançar a iluminação, ou união com o universo. 

O Qigong religioso, apesar de ser o mais alto de todas as categorias, sempre foi mantido em segredo, e foi apenas neste século que começou a ser revelado aos leigos.

Na China o Qigong religioso inclui Taoístas e Budistas, o seu maior propósito é o treino para a Iluminação.

Os praticantes do Qigong religioso acreditam que todos os sofrimentos humanos são causados pelas emoções e desejos e treinam para fortalecer seu Qi interno, para nutrir o espírito e assim alcançar estágios de consciência mais elevados.

Qigong na era moderna

Atualmente o Qigong é praticado por milhares de pessoas pelo mundo fora e existem diversos estudos científicos que comprovam a sua eficácia.

Em 1980 foi efetuada a primeira operação exclusivamente com anestesia com recurso ao Qigong.

Existem vários hospitais dedicados à recuperação de operações, doenças e acidentes através do Qigong, e pelo mundo fora aparecem institutos de qigong para espalhar o conhecimento e ensinar a prática do domínio e cultivo da energia.

Esta prática ancestral ainda pouco difundida no mundo ocidental é a materialização do conhecimento de milhares de anos e de uma das filosofias mais profundas e misteriosas que o mundo conheceu, o taoísmo.

O Qigong ensina o praticante a conciliar o seu mundo interior com o mundo exterior, criando uma mais harmonia entre ambos, é aquilo a que se pode chamar “o caminho do meio”.

Nas palavras de Carl Jung:

“Porque as coisas do mundo interior nos influenciam de uma maneira ainda mais poderosa por sermos inconscientes delas, é essencial para qualquer pessoa que pretenda fazer progressos no autoconhecimento objetivar os efeitos da anima e, então, tentar compreender quais são os conteúdos que estão por trás desses efeitos. Desta forma, a pessoa adapta-se e protege-se contra o invisível. Nenhuma adaptação pode resultar sem concessões de ambos os mundos. As reivindicações dos mundos internos e externos, ou melhor, dos conflitos entre eles, segue-se o possível e o necessário. Infelizmente, a nossa mente ocidental, carente de toda cultura a esse respeito, nunca concebeu um conceito, nem mesmo um nome, para a união dos opostos pelo caminho do meio, o item mais fundamental da experiência interior, que poderia ser como o conceito chines do Tao.