A energia das emoções
A palavra “emoção” é derivada do latim emovere, um “movimento para fora”, sendo assim, a expressão externa de um sentimento interior no tom de voz, na expressão facial e nos gestos. As emoções são, tanto mentais quanto físicas. Implicam um movimento de energia tanto dentro de si como entre si e os outros. A prática de Qigong ajuda a limpar obstruções ao fluxo de emoções, de modo que elas sejam expressas graciosamente em vez de reprimidas ou libertadas impulsivamente.
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O Qigong pode ajudar a curar e a equilibrar as emoções, ao treinar a pessoa a ficar mais consciente dos componentes físicos do sofrimento emocional – ombros tensos, digestão ansiosa, olhar esforçado, respiração deprimida – e ao ensinar métodos práticos para resolver os problemas ao nível energético.
As emoções são tratadas à medida que influenciam o qi ou se expressam em maus hábitos físicos de postura, respiração e tensão.
O Qigong é, em muitos casos, um importante primeiro passo para a cura emocional.
Na filosofia holística implícita do qigong, corpo e mente exercem influências recíprocas um no outro. As emoções influenciam o corpo: armazenamos a raiva no corpo ao elevar os ombros e ao tensionar o pescoço o que inibe o fluxo de qi.
O corpo também influencia as emoções. Certos hábitos de respiração e postura ou problemas viscerais podem criar atitudes psicológicas. O qi é o princípio unificador, entre mente e corpo, pelo que podemos tratar os dois problemas ao mesmo tempo.
O qi não está apenas no cérebro ou no coração, mas circula por todo o corpo. Quando o qi está saudável, todo o sistema – mente, corpo, emoções – está saudável.
Estado de espírito e estado de saúde andam juntos; mas como a mente e o corpo se influenciam um ao outro?
O grande ponto de ligação é criado pelos neuropeptídeos, “as substâncias químicas da consciência”, que são sintetizadas em resposta ao pensamento e sentimento.
Os neuropeptídeos fluem pelo corpo como qi, transportam informações de e para o cérebro, sistema nervoso e outras partes do corpo. Ligam-se a locais receptores de vários tecidos e, em seguida, atuam como redes de informações, ajudando a coordenar a atividade no corpo.
Por exemplo, quando o corpo requer fluido, um neuropeptídeo chamado angiotensina liga-se a uma parte do cérebro associada a emoções e sentimentos, conhecida como amígdala. Quando tal acontece, sentimos que estamos com sede. A angiotensina bloqueia simultaneamente os locais receptores nos rins, dizendo aos rins para conservarem água. Assim, o neuropeptídeo integra sentimento, consciência e fisiologia.
Os sentimentos fazem com que neuropeptídeos específicos sejam sintetizados e fluam para locais específicos, influenciando o funcionamento do corpo. Sensações físicas como dor, fome ou o cheiro de uma flor estimulam a produção de neuropeptídeos e, assim, mudam o nosso humor.
Existem locais receptores para os neuropeptídeos praticamente em todo o corpo. Os órgãos internos, particularmente os intestinos, são ricos em receptores. Isso pode explicar por que se diz que as emoções são sentidas como “um murro na barriga” ou por que a ansiedade tem um efeito adverso na digestão.
A atividade dos neuropeptídeos também explica por que a respiração é uma influência tão poderosa no estado de espírito.
As emoções afetam diretamente a respiração (e o qi), perturbando-a ou aprofundando-a. E, inversamente, a respiração e o qigong podem criar um humor positivo, uma sensação de empoderamento e vitalidade que causa uma enxurrada de neuropeptídeos (qi), melhorando a saúde.
Existem receptores para cada neuropeptídeo nos monócitos, células imunes que reconhecem e ingerem organismos invasores e auxiliam na cicatrização de feridas e na reparação de tecidos.
Isto significa que uma grande variedade de estados emocionais, tanto positivos quanto negativos, influenciam diretamente a função e a saúde das células imunológicas.
Quando sente raiva, as substâncias químicas da raiva são sintetizadas, fluem por todo o corpo, ligam-se e influenciam milhões de células. Em pouco tempo o fígado começa a sentir a raiva; assim como os glóbulos brancos. Se for uma raiva doentia — reprimida ou expressa inadequadamente, os glóbulos brancos e o fígado podem se tornar beligerantes, recusando-se a realizar as suas tarefas. Por outro lado, se se sente feliz e seguro, todas as células se sentem felizes. Até os ossos (uma importante fonte de células imunes) estão felizes.
Quando sente uma certa emoção, muitas funções corporais respondem ao mesmo tempo. Todo o sistema se transforma de uma só vez. Essas conexões mente-corpo são uma questão de experiência comum. Se faz uma cara feia, imediatamente evoca sentimentos de raiva.
Pratique a respiração lenta do qigong e o seu humor mudará.
A saúde ou o sofrimento emocional e físico ocorrem juntos, vinculados por um sistema de comunicação: neuropeptídeos na ciência ocidental, qi na ciência chinesa.
Lembre-se: a mente flui por todo o corpo.
Corpo relaxado, mente relaxada
Emoções que foram reprimidas por longos períodos de tempo são verdadeiras armaduras em forma de tensões musculares o que reflete uma má postura.
Por exemplo, se tencionamos a garganta quando estamos infelizes, em vez de libertar a pressão da tristeza com lágrimas, isso pode se tornar numa dor crônica no pescoço.
Se encolhemos o peito em reação ao ridículo, vamos prejudicar a respiração e gerar problemas respiratórios.
Uma criança que enrijece a coluna por causa do medo pode desenvolver uma postura pobre e inflexível.
Infelizmente, essas tensões internalizadas tendem a permanecer conosco. À medida que nos acostumamos com a tensão, a mesma torna-se parte da nossa realidade e identidade. A tensão e a situação que a gerou caem no inconsciente. Assim se forma a raiz de muitos distúrbios psicossomáticos crônicos.
Através da prática de qigong, aprendemos como trazer áreas tensas do corpo para a luz da consciência. A consciência é tão poderosa que às vezes é suficiente para mudar um padrão fixo de comportamento. As emoções que ficaram presas à tensão chegam mais facilmente à consciência. Velhas memórias e sentimentos descongelam, libertados do tecido congelado. Se isso não resolver o problema, pelo menos o disponibiliza para trabalhar, no próprio processo introspectivo. Sei disso por trabalhar com muitos estudantes e por experiência pessoal.
A base do qigong é o relaxamento e a tranquilidade. Em vez de fazer um esforço e fazer mais, pode ser importante fazer menos!
Através da prática regular de qigong, aprende como alcançar um centro relaxado e tranquilo. Torna-se mais fácil retornar a essa sensação quando começa a se sentir sobrecarregado por emoções ou preocupado com pensamentos específicos. Assim, as emoções são muito menos propensas a se tornarem extremas ou fora de controle.
Às vezes, tudo o que é necessário é perguntar: “Estou a respirar? Estou de pé no chão?” Os taoístas chamam esse estado psicológico de Taiji, o mesmo termo usado na forma Taijiquan. Taiji significa o ponto de equilíbrio entre yin e yang, o lugar de quietude em meio à mudança.
Relaxar não é tão fácil quanto parece.
Envolve transformação física e mental. A rigidez física sempre produz rigidez mental e vice-versa. Padrões obsessivos de pensamento acompanham tensões internas repetitivas. Às vezes, essas tensões são muito sutis, como na mandíbula, na língua ou no tecido conjuntivo profundo. As pessoas que estão constantemente a ruminar os pensamentos, esqueceram a localização do botão de desligar na sua TV interna. A língua e a mandíbula contraem-se, soltam e fazem movimentos extremamente pequenos e invisíveis continuamente.
O fato de a tensão ser muitas vezes inconsciente ou crônica não a torna menos prejudicial. A tensão contínua, consciente ou não, é uma drenagem contínua da vitalidade e do qi. A medicina chinesa considera essas tensões como a raiz da maioria dos problemas psicológicos.
Às vezes, mesmo quando os pensamentos obsessivos ou o comportamento emocional cessam, a rigidez física contínua e, eventualmente, recria a condição patológica. O que torna-se num círculo vicioso, um ciclo de feedback negativo.
A situação pode se tornar bastante complexa, considerando que a tensão muscular também afeta o funcionamento dos órgãos internos, principalmente o fígado. Por exemplo, de acordo com a medicina chinesa, o fígado controla a tensão nos músculos e ligamentos e também ajuda a espalhar o qi pelo corpo. Quando o corpo está tenso, o fígado não é capaz de funcionar da melhor maneira. Quando o fígado não está saudável, o corpo fica tenso. Novamente temos um círculo vicioso.
Tensão Mental/Emocional Tensão Física Desequilíbrio do Fígado Estagnação do Qi
A única maneira de sair do loop é usar a atenção. A consciência é o ingrediente essencial do relaxamento. Uma vez que o aluno está consciente, é possível sentir o que está errado e exercer algum controle. A isto chamamos de “ouvir a energia”. Ouvir a energia leva a “compreender e controlar a energia”.
No entanto, uma vez que a tensão e o esforço são os problemas, a consciência e o relaxamento, embora envolvam foco e intenção, devem ser feitos sem esforço, um processo de entrega. O relaxamento é uma questão de prestar atenção e não fazer.
O domínio do relaxamento é um desafio contínuo em cada estágio do treino de qigong. Existe sempre um nível mais profundo de relaxamento que podemos alcançar, mais lugares onde podemos deixar ir e fazer menos.
A mudança da tensão para o relaxamento é paralela à mudança da distração e falta de foco para a consciência silenciosa. As ondas cerebrais desaceleram, passando das rápidas ondas beta, que caracterizam o uso da linguagem e do intelecto, para as lentas alfa e teta, demonstrando um estado atento, consciente e intuitivo. A forte presença de ondas alfa e teta lentas, comumente vistas nos EEG (eletroencefalogramas) de praticantes de qigong, também sugere que imagens e sentimentos reprimidos podem subir mais facilmente à superfície da consciência.
Assim, podemos ver como o relaxamento pode estimular a libertação e a resolução de problemas emocionais a partir de duas perspectivas complementares. Por um lado, à medida que a tensão é libertada, as emoções presas nos músculos tensos também são libertadas.
Por outro lado, o relaxamento físico cria um metabolismo mais lento, pulsação mais lenta, respiração mais lenta e relaxada e ondas cerebrais mais lentas. As ondas cerebrais lentas correspondem à abertura de fronteiras rígidas entre a mente inconsciente e a mente consciente, para que, novamente, possamos ter consciência das emoções reprimidas e inibidas e assim, esperamos, poder expressá-las e libertá-las de maneira adequada.
O relaxamento, embora seja a base do treino de qigong, não é o único princípio com implicações psicológicas.
A postura no Qigong: a procura do equilibrio emocional
Uma das reações físicas mais comuns ao medo ou trauma emocional é o encolhimento espontâneo das costas, como faz um gato quando reage ao perigo. O medo causa uma contração para dentro, uma retirada de energia da periferia do corpo, longe da ameaça percebida e em direção ao centro. O sacro e o pescoço ficam tensos e parecem mover-se em direção um ao outro. A coluna pode tornar-se mais curta.
O Qigong ajuda a superar e a corrigir isso ao enfatizar o “relaxamento das articulações” e ao ensinar maneiras de alongar e estender a coluna. Em algumas técnicas de qigong, o aluno imagina que o cóccix é puxado para baixo ao mesmo tempo em que a cabeça é levantada. A coluna é esticada internamente. Somente quando a coluna é longa e flexível pode relaxar, o que cria uma atitude confiante.
O esterno também deve estar relaxado. Indivíduos com problemas psicológicos geralmente sentem constrição no peito durante a inspiração ou expiração. Depressão, ansiedade e baixa autoestima criam uma postura em que o peito está cronicamente afundado, dificultando a inalação. A pessoa está fisicamente deprimida, incapaz de expandir o peito adequadamente para receber o novo e ser revigorado pelo ambiente.
A postura oposta é a de inflação, o peito cronicamente distendido, como se estivesse preso durante a inspiração e incapaz de soltar. Aqui, o indivíduo tem uma auto-imagem insuflada e irrealista, está literalmente cheio de si. Muitas vezes esconde um sentimento mais profundo de indignidade e medo de se aproximar das pessoas. O indivíduo que diz: “Estou cheio, não preciso de ninguém”, pode estar realmente querer dizer: “Fui ferido no passado e não quero arriscar novamente”.
Os clássicos do qigong aconselham: “Solte o peito; estenda as costas. Relaxe, abra as articulações.” O que cria uma postura de respiração fluida na qual o pulso da vida, o yin e o yang, a inspiração e a expiração são permitidos com igual facilidade. Não nos apegamos às velhas experiências nem evitamos as novas.
Em todas as técnicas de qigong, os ombros estão afundados. Esta é uma área do corpo que responde rapidamente à raiva, medo e frustração. Com ombros erguidos e firmes, o alcance natural dos braços é inibido. É difícil alcançar e receber alimento do meio ambiente. Quando as tentativas de receber amor foram repetidamente frustradas, isso geralmente é blindado no corpo como tensão nos ombros. Ombros tensos e levantados também dificultam o golpe e podem ser sintomáticos de raiva reprimida. Se o impulso agressivo explodiu ou implodiu, na forma de tensão, isso indica que o indivíduo é incapaz de encontrar meios apropriados para expressar a raiva ou pode ter um problema com o controle dos impulsos.
Por outro lado, quando os ombros parecem pressionados e caídos para a frente, podem estar a querer dizer: “A vida é um fardo” ou “Eu não aguento”. As costas começam a se curvar para a frente, como se carregasse uma carga pesada. Se combinada com um esterno deprimido, a postura pode impulsionar os danos causados por outras condições. Exerce pressão sobre o coração, dificulta o bombeamento de sangue – uma situação muito perigosa se já houver um defeito cardíaco estrutural ou uma tendência à insuficiência cardíaca. Uma coluna curvada acelera as alterações posturais debilitantes que estão associadas à osteoporose.
A sensação de “não aguento” também se manifesta nos joelhos trancados, cortando efetivamente a sensação do chão e reforçando a parede entre a mente consciente e subconsciente. Joelhos trancados podem atrair uma incapacidade de confiar, um medo de que o chão não nos apoie, então tentamos nos erguer para longe do mesom. Na verdade, gera o efeito oposto, tornando o equilíbrio difícil e precário. Pode-se imaginar a andar numa corda bamba com os joelhos trancados? Quando os joelhos se dobram, caímos no nosso centro, num lugar de equilíbrio e consciência mais plena de quem somos.
No qigong, os olhos geralmente estão abertos, e absorvem o ambiente, examinando-o sem se fixar em nenhum objeto em particular. Os olhos têm um foco suave. Permitem que o mundo entre, sem apego. Os olhos não olham para o que passou (o passado) nem saltam para o que ainda não está à vista (o futuro). O que ajuda a manter a mente focada no presente e ajuda a eliminar, as expectativas irreais e a necessidade de ensaiar as nossas respostas aos eventos da vida antes que eles aconteçam.
O aspecto mais transformador e difícil da postura do qigong é “afundar”.
À medida que o corpo relaxa, o peso afunda-se nos pés, e centro do umbigo (dantian). Como na escalada, a descida é mais difícil e assustadora do que a subida, afundar o qi, pode trazer à tona questões emocionais difíceis.
O Qigong é fortemente influenciado pela filosofia taoísta de naturalidade e espontaneidade.
Lao Tse diz: “Abrace o bloco de madeira não esculpido”. Ou seja, não tente se encaixar num molde ou reduzir a plenitude de quem você é com regras e regulamentos, deve e não deve.
Em vez disso, à medida que aprende, através da prática de qigong, a identificar os desequilíbrios, não fique muito entusiasmado em corrigi-los.
Equilibre o desejo de melhorar com uma forte dose de auto aceitação.
Irá ajudá-lo a crescer num ritmo lento e constante.
As emoções e os órgãos
A medicina chinesa categoriza as principais emoções como: ansiedade, tristeza, medo, raiva, alegria, ruminação e empatia. Cada uma delas, quando excessivas ou fixas (preocupam a mente), prejudicam um órgão interno e perturbam o qi de maneiras específicas.
A ansiedade e a tristeza danificam os pulmões. Durante os períodos de ansiedade, a respiração e o qi ficam contraídos, incapazes de fluir facilmente para dentro e para fora dos pulmões. A ansiedade pode contribuir para o desenvolvimento ou exacerbação da asma e outras condições brônquicas. De acordo com a medicina chinesa, os pulmões absorvem o qi do ar, para regular o fornecimento de energia interna. Quando os pulmões estão enfraquecidos pela dor, a saúde geral e a vitalidade diminuem. No entanto, não significa que devemos suprimir a tristeza. Não é saudável reter as lágrimas em resposta a um evento perturbador. Tanto a dor prolongada quanto a dor não expressa enfraquecem o qi do pulmão.
Na Medicina Tradicional Chinesa, a palavra shen, “rins”, inclui tanto os rins quanto as glândulas supra-renais e, em alguns contextos, o sistema reprodutivo. Os shen são mais afetados pelo medo. O medo causa dor e doença nos rins, glândulas supra-renais e região lombar e cria condições favoráveis para distúrbios do trato urinário e incontinência. Quando a pessoa está com medo, o qi desce em direção ao sacro e em direção ao centro, longe da superfície do corpo. O corpo contrai em autoproteção. A circulação do sangue e da respiração diminui, o que resulta em condições de excesso e estagnação no centro e depleção na periferia. Um sinal comum são mãos e os pés frios. Está literalmente “congelado de medo”.
O medo crônico pode levar a uma série de condições debilitantes. O medo e o stress fazem com que as glândulas supra-renais secretam grandes quantidades dos hormônios do stress, adrenalina e hidrocortisona, que sinalizam às células para quebrar as gorduras e proteínas armazenadas no açúcar (glicose). O que torna a energia disponível para “lutar ou fugir de uma ameaça” – uma necessidade durante ameaças de curto prazo à sobrevivência, mas devastadora se prolongada. À medida que as reservas de energia são esgotadas, ficamos fracos e cansados, levando ao esgotamento. Os reservatórios do corpo não são infinitos. Se não tivermos tempo para descansar e regenerar, a nossa capacidade de lidar com o stress fica prejudicada.
A libertação de hormônios adrenais coloca muitos processos corporais em espera, com o fim de se defender contra a ameaça. Aqui está incluido o para de crescer, reparar e de se reproduzir, inibe ou desativa substâncias químicas essenciais e células imunológicas. Se o stress for constante, o corpo não pode retornar ao estado saudável, perde a capacidade de se defender efetivamente contra patógenos ou de reparar e curar danos.
Na teoria do qigong, os rins e as supra-renais também controlam a função cerebral, especialmente a memória. Pesquisas científicas confirmaram que o medo e o stress podem enfraquecer a memória e criar dificuldades de aprendizagem. O hormônio do stress, a hidrocortisona, danifica o hipocampo, região do cérebro responsável pela memória e aprendizado e rica em receptores de hidrocortisona.
A raiva enfraquece o fígado e faz com que o qi suba. Na verdade, a palavra chinesa comum para raiva é sheng qi “qi ascendente”. Outras expressões usadas para descrever uma pessoa com raiva incluem huo qi “fogo qi grande” ou yang qi tai gao “yang qi muito alto”.
O aumento do qi leva à tensão muscular e a várias doenças relacionadas ao fígado e ao fogo, como dores de cabeça, fadiga ocular, hemorroidas e menstruação irregular. A fraqueza do qi do fígado também contribui para as mudanças de humor, pois o fígado não pode desempenhar a sua função de espalhar o qi e harmonizar o fluxo.
No Ocidente, distinguimos entre “raiva saudável” e “raiva doentia”. Enquanto os chineses dizem simplesmente que a raiva é prejudicial, os pesquisadores ocidentais da mente-corpo descobriram que a expressão honesta de sentimentos “negativos” é boa para a saúde.
A raiva doentia é reprimida, crônica, cruel ou violenta. Este tipo de raiva não termina depois de descarregada; inevitavelmente, um rastro de outros sentimentos se segue, incluindo ressentimento, frustração e culpa.
A incapacidade de expressar raiva saudável e outras emoções convencionalmente rotuladas como “negativas” pode suprimir o sistema imunológico.
Que a alegria é considerada uma emoção negativa na literatura médica chinesa, o termo alegria (le) significa excitabilidade, uma tendência à vertigem, loquacidade, e excesso geral, dispersa o qi. Pode criar um pulso irregular e tornar a pessoa propensa a problemas cardíacos.
A pessoa excitável e alegre é o oposto do ideal chinês do sábio, que é capaz de manter a compostura interior e a calma mesmo no meio de uma tempestade. A excitação impõe exigências repentinas ao coração.
A forma mais extrema de excitação e, portanto, a emoção mais prejudicial para o coração é o choque emocional, seja por um evento negativo, como a morte de um ente querido, ou por um evento positivo, como ganhar um sorteio. A epidemia de doenças cardíacas no Ocidente pode ser sintomática da preocupação de nossa sociedade com, “alegria, excitação”. O coração é superestimulado pelo nosso ritmo acelerado de vida, por notícias assustadoras, violência na TV e uma paixão por sexo e romance.
Na filosofia do qigong, acredita-se que o coração gosta de paz e tranquilidade. Ele precisa de uma sensação de segurança para manter um ritmo uniforme enquanto bombeia energia pelo corpo. Quando o qi do coração é perturbado por excitação e excesso, mente e espírito são afetados, criando a possibilidade de insônia, pensamento confuso e inquieto ou, em casos extremos, alucinações, histeria e psicose.
O baço é danificado pela melancolia. O qi fica emaranhado e preso. Pensamento significa excesso de concentração, uma preocupação obsessiva com um conceito ou assunto. Os estudantes universitários muitas vezes sofrem do que a medicina chinesa considera distúrbios relacionados ao baço: distúrbios gástricos, pressão arterial elevada, imunidade enfraquecida e tendência a catarro e resfriados.
A empatia é uma questão importante e difícil para muitos curadores. Muita empatia dificulta o tratamento objetivo do paciente e pode resultar em “acolher” a doença física e/ou mental do paciente. Um estudante de qigong sabe que está supervalorizando quando encontra dificuldade em se sentir relaxado, centrado e enraizado. Exagerar na empatia é sentir-se sem poder e sem contato com a terra, o elemento que corresponde ao baço. Esta empatia enfraquece o baço e, inversamente, um baço fraco pode criar problemas de limites.
O baço carrega o qi da terra. Os mestres de Qigong dizem que o baço precisa de enraizamento, tempo gasto na natureza. Existe uma cura maravilhosa para ambos os patógenos emocionais do baço — a melancolia e a empatia. “Perca a cabeça e volte a si.” Passe mais tempo na natureza, vendo a natureza como um modelo positivo de saúde e equilíbrio. A terra suporta todos os tipos de vida de forma imparcial, sem apego. Deixe a mente ficar quieta e os sentidos abertos para o ambiente.
Em resumo, cada um dos principais órgãos internos pode ser danificado pelo excesso emocional. Há também emoções positivas que podem ajudar a curar os órgãos.
Os pulmões são curados por yi, muitas vezes traduzido como “justiça”, no sentido de integridade e dignidade. Yi significa dar a si mesmo e aos outros uma espécie de espaço psicológico, espaço para viver e respirar.
Os rins são curados por zhi, sabedoria. Zhi implica percepção clara e autocompreensão, um antídoto seguro para medos irracionais.
A raiva do fígado é remendada com bondade (ren). A virtude confucionista ren é um pictograma de duas pessoas que caminham juntas. Às vezes, é definido como os sentimentos naturais que surgem com o companheirismo: benevolência e “coração humano”. A excitabilidade do coração é equilibrada pela paz, calma, ordem.
Finalmente, o baço é curado pelo cultivo de xin. Este é um conceito rico que pode significar confiança, fé, honestidade, confiança, crença. Confiança é abertura e aceitação, um sentimento que surge quando se encontra um terreno comum com o outro. A confiança é uma cura para o qi emaranhado que ocorre tanto pela reflexão (um nó interno quanto pela estagnação) (o qi de um está ligado ao outro).
Elemento | Metal | Agua | Madeira | Fogo | Terra |
Orgão | Pulmões | Rims | Figado | Coração | Baço |
Emoções Negativas | Tristeza, Ansiedade | Medo | Raiva | Euforia | Passividade |
Efeito Qi | Contrair | Descer | Subir | Espalhado | Nó |
Emoções Positivas | Integridade | Sabedoria | Gentileza | Ordem | Confiança |
Curar as emoções
Sente-se confortavelmente e respire lentamente por alguns minutos, com os olhos levemente fechados. Certifique-se de que está relaxado e respira naturalmente. Traga a mente para os pulmões. Use os seus sentidos internos para sentir os pulmões. Ao inspirar, traga integridade e dignidade para os pulmões. Ao expirar, deixe a respiração levar todas as preocupações, ansiedades e tristeza. Repita várias vezes. Inspire integridade, expire ansiedade e tristeza.
Agora concentre-se nos rins. Deixe a inalação encher os rins com sabedoria, com a confiança do conhecimento interior. Expire todos os medos. Repita várias vezes.
Localize o fígado com a consciência. Ao inspirar, atraia bondade, enchendo completamente o fígado. Ao expirar, solte e solte a raiva. Repetir.
Traga a mente para o coração. Inspire, enchendo-o — todas as câmaras, válvulas, o músculo cardíaco — com paz e calma. Exalar, liberar excitação, zelo, excessos de qualquer tipo. Inspire paz novamente. Continuar.
Agora encontre o baço. Localize-o e sinta-o por dentro. Ao inspirar, encha-o de confiança e aceitação. Ao expirar, deixe de lado a melancolia e a ruminação. Deixe de lado o excesso de empatia, para que você possa estar seguro e enraizado em si mesmo. Mais uma vez, inspire confiança. Repetir.
Em seguida, traga a mente para o centro do seu ser, para a quietude e o silêncio da respiração abdominal tranquila. Deixe todas as imagens e pensamentos desaparecem. Fique com a sensação de ser puro, “sair com você mesmo” pelo tempo que desejar.
Também pode usar o Qigong Nutritivo Interior para a cura emocional. Ao respirar, pense em uma frase de cura, por exemplo: “As minhas emoções são equilibradas e calmas”. Inspire, expandindo suavemente a parte inferior do abdome, e pense: “As minhas emoções são…” Expire, deixando o abdome relaxar, pensando “equilibradas e calmas”. Repita por cerca de cinco minutos.
EU SINTO E POR ISSO SOU
Podemos ver que o qigong aborda as emoções de um lugar muito diferente da psicoterapia tradicional. O Qigong considera a forma como as emoções afetam a postura, a respiração e a saúde visceral. Em vez de ver os problemas psicológicos em termos de influências passadas no comportamento presente, o qigong concentra-se nos bloqueios de energia presentes.
Frequentemente, os problemas psicológicos parecem evaporar à medida que a tensão física se dissolve. Embora a memória seja armazenada em tecidos não saudáveis, nem sempre é preciso analisar essas memórias para alcançar a saúde psicológica. Muitos estudantes de qigong observam, em retrospectiva, que as dificuldades emocionais que tiveram no início do treino simplesmente não existem alguns anos depois.