Ao longo dos meus mais de 20 anos de prática de Qigong, sempre soube que esta arte tem o poder de transformar o corpo, a mente e a energia. E em especial a prática de Zhan Zhuang, a posição em pé como uma árvore, ocupa imum lugar muito importante na minha prática diária, dedido pelo menos 30 minutos duas vezes ao dia. É uma forma de mergulhar mais profundamente em mim mesmo, de explorar o meu interior e desbloquear um potencial que, talvez, ainda não tenha tocado completamente.
Quando comecei esta jornada os meus objetivos eram bastante claros. Queria aumentar os meus níveis de energia, desbloquear os meridianos e fortalecer o meu corpo. Apesar de conhecer bem esta prática, ainda demorei a fazer dela uma rotina consistente, com altos e baixos ao longo dos anos. No início, confesso, foi um desafio. Estar parado durante tanto tempo exige grande disciplina, paciência e resistência, mas, ao mesmo tempo, esta simplicidade aparente começou a revelar uma profundidade que me surpreendeu.
A cada dia que passava, sentia o meu corpo a responder. Tornava-se mais forte, mais estável, e conseguia permanecer na posição com menos esforço. Mas o impacto mais profundo foi interno. Comecei a perceber uma serenidade que ia muito além do relaxamento momentâneo. Era como se uma calma verdadeira estivesse a emergir, moldando a forma como interagia com os outros e comigo mesmo. Passei a ouvir as pessoas de forma mais atenta, mais presente, e a sentir um controlo emocional que antes era mais fugaz. Pequenos hábitos que já não serviam o meu bem-estar começaram a desaparecer quase naturalmente.
Ao mesmo tempo, a minha energia transformou-se. Antes, já tinha consciência do calor e da densidade do Qi, mas agora sinto algo diferente: um calor intenso, quase palpável, especialmente nas mãos. Esse calor permite-me trabalhar com a energia de forma mais clara, tanto em mim como nos meus alunos. É uma sensação incrível perceber que, através da prática, consigo abrir os centros energéticos deles e ajudá-los a sentir algo que talvez nunca tenham sentido antes – a sua própria energia.
Outro aspeto fascinante desta prática foi a conexão com o meu Dantian Superior (terceiro olho). É como se tivesse começado a sentir a presença da minha consciência búdica, algo que antes estava mais distante. Ainda não consigo emergir completamente nessa dimensão, mas a sensação de proximidade é inspiradora e motiva-me a continuar.
A prática de Zhan Zhuang também começou a refletir-se no meu ensino. Tenho incentivado mais os meus alunos a experimentar esta posição em pé, e os resultados são visíveis. Muitos relatam que se sentem mais fortes, tanto física quanto emocionalmente. Vejo neles uma resiliência crescente e uma capacidade renovada de se conectarem ao seu poder interior.
Para quem está a começar, o meu conselho é simples: não se apresse. Comece com apenas dois ou três minutos por dia. É suficiente para sentir o corpo, alinhar as articulações e começar a permitir que a energia flua. Com o tempo, esses poucos minutos podem crescer naturalmente para sessões mais longas, à medida que o corpo e a mente se adaptam.
Zhan Zhuang é uma prática profundamente transformadora. Não é apenas uma posição; é um portal para um estado de equilíbrio e harmonia que vai muito além do físico. A cada sessão, sinto que estou a tocar em algo maior, em algo essencial. E isso é o que me inspira a continuar – e a partilhar esta prática com os outros.